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7 Mitos em redor da edição de livros

Os mitos (por alguns designados de lendas urbanas) existem em todas as culturas do mundo. Muitos, apesar de negados e totalmente desmistificados, continuam a fazer parte do imaginário e a ser contados e disseminados regularmente.

Na edição de livros, também há mitos editoriais, isto é, ideias-feitas, convicções estabelecidas que, na maioria das vezes, não são verdadeiras ou, em alternativa, são distorcidas de modo a problematizar e complexificar o universo editorial.

A partir da nossa experiência de 14 anos no mundo da edição de livros de Literatura Infantil e Juvenil, em Portugal, deixamos à tua consideração 7 mitos editoriais muito espalhados entre nós.


Mito 1 – Para editar um livro é preciso ter conhecimentos e amigos!


Esta afirmação é um mito, mesmo reconhecendo que, tendo conhecimentos, contactos e amigos, é mais fácil chegar ao contacto com o(s) editor(es). Mas não creio ser verdade que um editor consciente publique um livro sem qualidade só porque tal lhe foi recomendado por um conhecido ou amigo! O que quero dizer, concretamente, é que o que é decisivo não são os conhecimentos ou os amigos, mas a qualidade temática e literária do manuscrito que se propõe ao editor.


Mito 2 – As editoras só editam os autores já conhecidos, publicados ou premiados.

Embora seja admissível que os que já são autores (que têm sucesso) ou já têm obra publicada ou premiada sejam editados, o facto de serem conhecidos, publicados ou premiados não é (não creio que seja) o critério editorial na hora de decidir-se pela publicação de um manuscrito. A verdade e a experiência dizem-me que há autores conhecidos, publicados e premiados que não conquistam leitores (ou seja: não vendem). São conhecidos por outras razões, nomeadamente exposição mediática, mas não só. Os autores menos conhecidos ou em início de carreira têm o ónus de mostrar melhor trabalho, quer no que toca ao texto que apresentam quer no que diz respeito à visibilidade que precisam de criar.


Mito 3 – Os livros autopublicados são de qualidade inferior aos que são publicados por uma editora tradicional


Há quem pense que os livros publicados por uma editora tradicional são objeto de uma grande triagem, leitura e análise crítica, coisa que não acontece numa obra autopublicada. Dizer isto assim, sem mais, é cair em generalizações. Há boas e más obras publicadas por editoras tradicionais, assim como haverá boas e más autopublicadas! O foco aqui não está em quem ou como se publica, mas, objetivamente, no que é publicado.

Um livro autopublicado (e não autoeditado), se é considerado como tal, passa também por um processo de análise e leitura crítica, de revisão de texto, de design gráfico e de imagem. Os passos seguidos por uma editora tradicional e por um autor autopublicado são (devem ser) exatamente os mesmos. A diferença está apenas em quem suporta financeiramente a edição.


Mito 4 – Eu só tenho de escrever, não preciso de fazer mais nada!

Quem pensar assim, seja escritor com provas dadas ou iniciante, vai perto. O compromisso do autor com o seu livro não se conclui na publicação do livro. Com a publicação termina o trabalho de escrita e inicia-se outro, talvez mais homérico, de conquistar leitores para o livro. E isso faz-se com eventos em redor do livro, com o propósito de aumentar a visibilidade do livro e do seu conteúdo. Digo mesmo que o trabalho mais difícil não é o de escrever e publicar o livro, mas o de “vender” o livro aos leitores interessados. O escritor tem de se comprometer com a promoção e divulgação do seu livro junto dos seus leitores. Afinal, o escritor é o primeiro e o maior interessado no sucesso da sua obra.


Mito 5 – Tenho contrato com uma editora, não preciso de fazer divulgação e marketing: a editora trata disso!

Deixar a divulgação e o marketing à inteira responsabilidade da editora não trará, por norma, grandes resultados. A editora tem múltiplos livros e respetivos autores para divulgar e promover e aposta sobretudo nos mais bem-sucedidos.

Como dissemos no mito anterior, o melhor é levar a sério a tarefa de promover o livro, mesmo que a editora o faça e o faça bem. No que toca a promover o livro (a conquistar leitores), todo o trabalho é pouco e todas as parcerias são insuficientes! Portanto, ajuda a editora com a qual tens contrato na divulgação e marketing do teu livro, desenvolvendo ações concertadas para lhe dar a maior visibilidade possível.


Mito 6 – Um bom lançamento ou apresentação faz com que o livro se venda bem!

Há apresentações, sobretudo se se trata da primeira obra de um escritor, em que o livro é um sucesso de vendas. Mas isso só acontece nos primeiros livros desse autor. Depois, com o tempo, perde-se o “efeito novidade” e as vendas esmorecem. Por outro lado, as vendas não são objetivo único (nem talvez primeiro) das apresentações ou lançamentos. O intuito destes eventos é o de “apresentar” ao mundo (leia-se: à comunicação social, aos leitores, etc.) o livro recém-nascido. A dimensão da visibilidade da apresentação de um livro não pode ser desprezada ou secundarizada em função das vendas.


Mito 7 – Ir a um programa de televisão ou rádio é garantia de vendas!

Em teoria, parece óbvio que seja assim, mas, na realidade, não é! Talvez uma ou duas pessoas que veem ou ouvem a entrevista ou o programa se sintam impelidas a comprar o livro, por proximidade de interesses. Mas, na realidade, isso não aporta grandes e imediatas vendas para o livro. Porém, não trazer vendas não significa que participar num programa ou entrevista não seja importante. Ao contrário, é muito importante, porque traz visibilidade ao livro e confere autoridade ao escritor. E é assim que se conquistam leitores.


Em conclusão: a edição de livros é um intrincado mundo de sonhos e expetativas misturadas com trabalho, dedicação e pequenas/grandes conquistas! Ter consciência destes mitos, para quem quer/ deseja escrever, pode constituir uma ferramenta eficaz na hora de lidar com editores e leitores e… talvez não menos importante, com a própria escrita.


João Manuel Ribeiro

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