A Casa que Fez o João

Aqui está a casa que fez o João

Uma casa sem portas nem janelas,

Feita de palavras escritas em papel.

(…)

Ilustração por João Vaz de Carvalho

Na rua mais barulhenta de uma vila imaginária, havia uma casa diferente de todas as outras. Nesta casa, as letras saltitavam e pintavam cada parede e cada um dos seus cantos com a música que formava a sua entoação. Não se via grande coisa à distância, mas quando alguém se aproximava… ouvia as gargalhadas daquelas palavras que se juntavam e formavam anedotas; ouvia os gritos dramáticos das letras que unidas criavam as novelas românticas; ouviam-se lamentos das epopeias. No outro canto, era possível identificar os risos das histórias infantis, dos seus contos e poemas. Havia ainda quem dizia que ao passar naquela rua ouvia o fanfarrar das páginas a virar, do som da caneta a escrever, ou das teclas a freneticamente bater.

João é o arquiteto destas palavras. Empurra uma para o canto, rouba uma letra ali, e arruma constantemente aquela mistura de palavras desenfreadas. “Vamos lá, Letras! Temos muito que fazer. Em outubro vamos abrir a casa para as nossas visitas!”, dizia o João e lá iam as letras, umas a correr outras a saltar a organizarem-se. Elas estão apressadas, muitas famílias, crianças alegres e educadores vão visitá-las em breve. Irão ler as suas frases, ver cada canto da casinha, e elas querem estar preparadas para esse momento. É a altura do ano que mais adoram!

Os meus caros leitores devem estar a questionar-se “Que casinha misteriosa é esta?”. Pois bem, meus amigos, esta casa, sempre em movimento, abre as suas portas duas vezes ao ano — uma em abril, outra no outono, em outubro. Quando abre as suas janelas e portas, escapam sempre algumas das palavrinhas curiosas para conhecer outros versos e cantigas. Por entre palavras, cores, ideias, foi construída assim A Casa do João.

Todos os semestres, cada criança, adulto, professor, bibliotecário, escritor e educador senta-se no chão, como se voltassem a ser pequenos, e ouvem o que estas palavras têm a dizer. Depois, quando o sol se deita e dá lugar às estrelas, a casa desaparece naquela rua imaginaria, deixando sempre a promessa: voltaria a erguer-se no semestre seguinte, maior, mais cheia, mais viva e novamente as palavrinhas iriam-se organizar com a ajuda do Arquiteto João.

Essa casa existe e venho falar dela. A Casa do João não está no meio de uma vila imaginária, mas num lugar acessível a todos: o site da Editora Trinta-por-uma-Linha. Trata-se de uma revista de literatura infantil e juvenil, publicada duas vezes por ano e disponibilizada gratuitamente em formato PDF.

Vetor por Freepik

Um lar feito de papel e propósito

 A Casa do João é um projeto cultural e educativo. É uma casa simbólica construída com palavras, ideias e sonhos, onde a literatura e as artes se encontram para formar leitores criativos e ambiciosos.

Ler A Casa do João é como entrar num lar acolhedor, há sempre uma nova sala a explorar. Cada uma mais colorida que a anterior. Na sala principal, fala-se de livros, resenhas, análises, recomendações, entrevistas, é uma sala vistosa e barulhenta. Na cozinha, fervilham ideias sobre práticas de leitura, mediação e projetos educativos, aqui encontram-se as letrinhas mais curiosas. Já no jardim, florescem as artes, com a ilustração e música, todas coloridas e divertidas. E no sótão, guardam-se memórias: as vozes das edições anteriores, os textos que para sempre irão nos inspirar.

O seu fundador, ou melhor Arquiteto, João Manuel Ribeiro, visou, desde o início, promover escrita, leitura e literatura infantil e juvenil em Portugal, sendo um dos pioneiros na vertente. Tanto ele como os seus colaboradores, sendo eu um eles, acreditamos que ler não é apenas uma atividade escolar ou um passatempo, mas uma forma de construir o pensamento crítico e de compreender o mundo através de uma perspetiva mais colorida. Por isso, cada edição abre espaço para o diálogo entre escritores, ilustradores, educadores, investigadores e mediadores de leitura e das crianças para quem escrevemos e publicamos.

Mas o que une tudo isso é o olhar humano e afetivo sobre a infância.
A revista não fala para as crianças, mas com as crianças. Não fala sobre educação, mas a partir dela: da prática, da experiência, do contacto direto com o mundo da leitura, sempre visando pela felicidade e bem-estar dos mais pequeninos de tamanho, mas grandes de coração.

Ao disponibilizar-se online, gratuitamente, em formato PDF, a revista garante o acesso livre do conhecimento e preserva o encanto do livro, mesmo num ecrã.
É um exemplo de como o mundo editorial pode adaptar-se sem renunciar à sua missão cultural.

Além disso, o seu compromisso com a liberdade de expressão e a defesa dos Direitos da Criança tornam-na uma publicação ética e afastada dos interesses comerciais, que em muito dominam a nossa sociedade. A Casa do João representa para nós um cantinho sincero onde é trabalhada a integridade e sensibilidade em prol das gerações futuras. Por isso, a revista tem sido também um instrumento pedagógico: usada por professores e mediadores como fonte de inspiração e de trabalho.

Enquanto o mundo muda, A Casa do João mantém-se fiel ao seu propósito: educar pela arte e leitura. Ela conversa com quem trabalha com a infância — e também com quem acredita que a infância é o começo de tudo.

Vetor por Freepik

De semestre em semestre, a casa cresce

Com tudo isto dito, o Arquiteto João prepara-se para abrir novamente a sua casa, agora com o 18.º número da revista e, com ele, a certeza de que esta casa cresceu. Não em metros quadrados, mas em alcance, relevância e em significado.

Com o tema “Como falar aos outros dos livros que nos encantam?”, esta nova edição convida-nos a pensar no poder de partilhar leituras. Aqui a crítica literária ganha destaque, enfatizando questões relativas ao desenvolvimento deste processo.

Ainda, as vozes que habitam esta casinha, juntamente com aquelas letrinhas, são diversas. Trata-se de escritores, mediadores e leitores que se juntam para falar sobre o encanto dos livros e o impacto que têm nas nossas vidas. Através de entrevistas, recomendações e reflexões cruzam-se histórias e testemunhos que mais uma vez nos mostra como a literatura infantil é, sempre, uma ponte que nos liga aos mais pequenos.

Entre páginas que inspiram e cativam, esta edição é um convite a continuar a conversar sobre o que nos move: as histórias que amamos. Porque, afinal, falar de livros é uma forma de continuar a lê-los, só que agora juntos.

Irá estar disponível brevemente, com data de lançamento no final do mês de outubro!

Uma casa aberta a todos

Dezoito edições depois, a casa permanece em obras constantes, sempre com o seu Arquiteto e os seus ajudantes a moldar aquelas letras trapalhonas. É uma casa com muitos segredos, sussurrados pelas paredes de papel e tinta. Mas aqui e agora, revelo o maior de todos: ela cresce sempre que alguém ali entra.

Não contem ao Arquiteto que aqui vos disse isso, é um segredo nosso! Onde juntos vamos ajudar aquelas letrinhas a ficarem maiores e mais cheias. Pois, cada leitor que descarrega um número, que lê um artigo, que o partilha ou comenta, torna-se também um construtor desta nossa morada simbólica.

A Casa do João é um espaço de encontro entre gerações e sonhos. É uma casa que nos lembra que a infância é uma vila imaginária que nunca devemos abandonar, e que os livros são o passaporte que nos permite regressar lá, sempre que quisermos.

Capa da Revista A Casa do João #18

Por isso, se ainda não a visitaste, fica o convite:

Entra.
Há lugar para ti também.
E cada página que leres será como acender uma nova luz nesta casa feita de palavras.

Cristiana Nunes

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