
Vetor por FreePick
O portão de entrada rangeu enquanto o atravessava. Ao fundo da colina, a casa surgia, silenciosa e imponente, com os seus arcos retos e duros. O forte luar conferia-lhe um ar fantasmagórico. Detive os meus passos, consciente do ambiente em que me encontrava.
Não sou uma pessoa audaciosa, mas também não me considero facilmente assustada. Contudo, estar naquele lugar despertou em mim um instinto adormecido. Os pelos dos meus braços eriçaram-se no exato momento em que uma corrente de ar levantou do chão algumas folhas esquecidas do outono. O farfalhar não cessava. Um uivo preencheu a noite e arrancou-me do transe em que estava mergulhada. Retomei a caminhada.
Acelerei o passo e subi os degraus da entrada. Respirei fundo e bati três vezes à porta. Pela janela, vi os olhos verdes e intensos de um gato. Senti-me como um ratinho a ser observado — a próxima presa.
Tudo aconteceu muito depressa. O meu grito reagiu antes do meu corpo.
“BOOO!”, gritou a minha irmãzinha ao abrir a porta.
Agarrei o peito, temendo que o meu coração fugisse com o susto.
“Sua bruxinha!”, respondi, correndo atrás dela.
Foi a vez de ela gritar. Escapou dos meus braços estendidos e fugiu pela casa dentro. Não demorei a segui-la. O chapéu alto e pontiagudo balançava à frente, enquanto o vestido roxo e a vassoura se arrastavam atrás dela.
Fiz um “Arghhh!” na minha melhor personificação de monstro, e o entusiasmo dela refletiu-se num gritinho agudo. A perseguição durou alguns minutos e terminou comigo já sem fôlego e com ela a insistir: “Só mais um pouco, mana!”. A noite prosseguiu com muitos doces e com um gato a dormir em cima do meu colo.

Vetor por FreePick
Esses dias ficam para sempre. Para nós, adultos, o Halloween é uma noite de terror e suspense; para eles, os nossos pequenos seres criativos, é um dia mágico — um dia em que podemos ser o que quisermos, sem receios nem discriminações. É aquele momento em que não precisamos de ser bonitos ou perfeitos. Na verdade, quanto mais esfarrapada a roupa, melhor! É o dia em que o bizarro é aceite e abraçado. Como poderia não haver magia nisso?
Contudo, a pergunta permanece: de onde vem esta magia? Qual é a sua origem?
Esta noite cheia de segredos, travessuras e gargalhadas dá hoje espaço para que as crianças se disfarcem de monstros e bruxas, os pais decorem as casas e todos, sem exceção, aguardem ansiosamente o toque da campainha e o famoso:
“Doce ou travessura?”.
Mas o Halloween não nasceu assim, com máscaras coloridas e sacos cheios de açúcar que ameaçam provocar diabetes. Na verdade, esta tradição vem de muito longe, de um tempo em que não existia luz elétrica nem abóboras laranjas nos parapeitos das janelas.
Para compreendermos o verdadeiro significado do Halloween, precisamos de viajar até há mais de dois mil anos...

Vetor por FreePick
Tudo começou com os celtas, um povo antigo que habitava partes da Irlanda, Escócia e Gália. Celebravam o Samhain, uma festa que marcava o fim das colheitas e o início do inverno. Para os celtas, essa noite era mágica: acreditavam que o mundo dos vivos e o dos espíritos se aproximavam, permitindo que alguns espíritos bondosos visitassem as famílias. Para afastar os maus, acendiam grandes fogueiras nas colinas, vestiam-se com peles de animais e deixavam comida à porta das casas, como forma de proteção.
Com o passar dos séculos, o Samhain foi-se misturando com tradições cristãs, como o Dia de Todos os Santos, a 1 de novembro, e acabou por ganhar um novo nome: All Hallows’ Eve, que mais tarde se transformou no nome que todos conhecemos, o Halloween.
Sabias que, no início, não se usavam abóboras? Na Irlanda, as pessoas esculpiam nabos e colocavam velas dentro deles para afastar os maus espíritos. Quando os imigrantes levaram a tradição para a América, perceberam que as abóboras eram mais fáceis de escavar e mais bonitas! Assim nasceu o “Jack O’Lantern”, nome dado ao famoso rosto iluminado da abóbora.
Por incrível que pareça, em Portugal também existia (e ainda existe em alguns lugares!) uma tradição muito parecida com o Halloween. Chama-se Pão-por-Deus e é celebrada no mesmo dia.
Nessa data, as crianças saem à rua com sacos de pano e vão de porta em porta a pedir “Pão-por-Deus”. Em troca, recebem bolinhos, frutos secos e, por vezes, até umas moedinhas. É uma tradição cheia de significado: simboliza a partilha e a amizade por aqueles que já partiram.
Com o passar do tempo, o Pão-por-Deus começou a misturar-se com o Halloween, e hoje é bonito ver como duas tradições tão diferentes e distantes se cruzam e convivem. O Halloween em Portugal é, por isso, uma mistura perfeita entre o medo divertido e a ternura das nossas raízes.

Vetor por Pikisuperstar
Apesar de não ter muitas memórias de infância desta data, estão gravadas em mim as da minha irmã. Já a vi disfarçada de princesa, bruxa e, este ano, vai ser uma abóbora! Então, vejo nesta data a oportunidade perfeita para aprender, criar e fortalecer laços. Assim sendo, deixo aqui umas ideias para celebrares em casa, de forma educativa e cheia de imaginação.
Decoração Encantada: Decorar a nossa casa pode ser muito divertido! Aproveitem este momento para o fazerem juntos. Não é preciso gastar muito dinheiro! Usem papel, cartolina e materiais reciclados para criar morcegos, teias de aranha e fantasmas engraçados. As crianças adoram participar, e isso ensina-lhes o valor da criatividade e da reutilização. Dá um salto às nossas redes sociais — lá iremos incluir alguns tutoriais de como fazer algumas destas decorações!
Fantasias com História: Cada disfarce pode ter uma história por trás. Porque apenas vestir uma roupa de bruxa quando também podes inventar quem é essa bruxa e a sua história? Onde vive? O que faz? Talvez seja uma bruxa boa que ajuda as crianças perdidas ou ensina poções de coragem e de amor! Façam um teatro! Já têm o palco montado e o vestiário pronto! Agora só falta: “Ação!”.
Jogos e Desafios: Uma caça aos doces misteriosa é sempre sucesso garantido. Escondam guloseimas pela casa e deixem pistas! Aqui, a criatividade é um requisito obrigatório! Também podem fazer um concurso de gargalhadas assustadoras, um jogo de adivinhas sobre monstros ou vilões famosos, ou até mesmo jogos de mímica. Aqui, as possibilidades são quase infinitas!
Histórias de “Medinhos Bons”: Apaguem as luzes, acendam uma lanterna e sentem-se juntos a contar histórias. É requisito obrigatório ser debaixo das cobertas — é o método mais comum para afastar os monstrinhos e fantasmas maçadores!

Vetor por FreePick
Para este momento, a Trinta por uma Linha tem uma seleção de livros perfeita. Dá uma olhada na Box Halloween, agora disponível na nossa loja. As nossas boxes são algo novo e perfeito para quem quer ler várias histórias aos mais pequenos, por um preço acessível!
O Halloween, mais do que um bom motivo para festejar e comer doces, é uma lição sobre o medo, a tolerância e a imaginação. Mostra-nos que o medo não é um inimigo, mas sim um professor. Não precisamos de ter medo de tudo o que é diferente e desconhecido. Às vezes, o misterioso é bom, e damos por nós surpreendidos por o termos experimentado e gostado, depois de tanto tempo a recusá-lo.
Quando uma criança veste uma máscara, aprende a experimentar o outro, a brincar com identidades, a expressar emoções. Quando partilha doces, aprende a dar e a agradecer. Quando ouve uma história assustadora, descobre que a imaginação é mais poderosa do que qualquer fantasma ou monstro escondido no roupeiro entreaberto.
E é isso que torna o Halloween tão especial: ele une famílias, aproxima-nos dos outros, apesar das nossas diferenças, e faz com que o medo deixe de ser um bicho-papão.
Aqui, na Editora Trinta por uma Linha, acreditamos que cada data pode ser uma oportunidade para aprender. O Halloween é o momento perfeito para ensinar às crianças que o mundo está cheio de histórias e tradições que ainda vivem em nós e connosco.
O Halloween é mais do que sustos e o dia em que criamos cáries de tanto comer doces.
É entre sombras e gargalhadas que aprendemos a lição mais importante de todas:
quando estamos juntos, nada mete medo.
E tu, o que vais fazer este Halloween?
Partilha connosco a tua aventura!
Cristiana Nunes


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