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As palavras são assim, disfarçam muito, vão-se juntando umas com as outras, parece que não sabem aonde querem ir e, de repente, por causa de duas ou três, ou quatro que de repente saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjetivo e, aí temos a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos. (José Saramago)
A poesia abre-nos à experiência e à receção estética, entendida esta como uma expressão gratificante, vinculada à beleza da linguagem e que se funda na construção de sentido, e oferece critérios para interpretar essa mesma experiência. Implicando o leitor num processo ativo, que o envolve na comunicação poética, não pode dizer-se que essa experiência estética seja algo subjetivo, pontual e perecível, mas, ao contrário, está motivada pelo prazer que oferece como obra de arte.
Educação estética
A educação estética nos primeiros anos de escolaridade (as artes, em geral, e a poesia, em particular) constitui um contributo único e vital no desenvolvimento da linguagem e da literacia das crianças, bem como no autoconhecimento e no empenho na aprendizagem. As crianças têm uma predileção para «brincar» com a linguagem, incorporando a poesia antes do contacto escolar com a mesma.
A poesia possibilita o desenvolvimento da comunicação oral e escrita, uma vez que é um tipo de texto livre das restrições linguísticas impostas pelos textos comuns, permitindo, por isso, aceder a um uso da linguagem distinto do habitual.
A poesia «faz falar muito e, sobretudo, faz escrever», reclamando uma explicitação acerca do seu sentido que conduz à escrita, ou re-escrita (ainda que oral) do poema, podendo essa assumir configurações diversas. Como adverte Maria Alzira Seixo, na Revista de Poesia, n.º 6, 49-52, dedicada ao tema Como falar de Poesia?, «falar de poesia consiste, portanto, em escrever: escrever poesia, outra ou a partir dessa, escrever ao lado da poesia, ou sobre (ou sob) a poesia (…), porque só a escrita trabalha o sentido que se considera, desenvolve ou reformula».
A articulação dos vários códigos linguísticos implicados no texto poético possibilita o desenvolvimento das capacidades de expressão oral (como a rima, a musicalidade e outros aspetos fonéticos) e de escrita, rompendo com as barreiras meramente informativas e constituindo-se como ponto de partida para uma escrita criativa.
A poesia é ainda relevante para ensinar a escolha das palavras, desenvolvendo a fluência oral e escrita, e ajudando os alunos a compreender o modo, o tom e o sentido das emoções do que leem e do que escrevem. A poesia oferece modelos para que as crianças os possam experimentar, ajudando cada uma a adquirir o seu estilo de escrita.
Tendo em conta que jogar com as palavras permite captar e conservar o prazer das mesmas, que «a dicção é metade do pensamento, o resto é vocabulário» (François Billetdoux), que as cantilenas e os jogos de palavras fornecem ao leitor um «outro» vocabulário, que a leitura da poesia em voz alta é fundamental, pode sustentar-se o valor educativo da poesia no que toca ao desenvolvimento e estruturação da comunicação oral e escrita.
João Manuel Ribeiro
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