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Perante a folha alva que me olha desconfiada, não sei o que escrever e resolvi regressar ao passado, aos tempos em que, professora no ativo, propunha exercícios de escrita aos meus alunos com temas de difícil exploração e que exigiam até um tratamento um pouco filosófico do tema.
Naquele dia o tema foi “Ah! Se eu estudasse Português!” Não lhes exigi um texto argumentativo mas apenas a posição de cada um face ao estudo da língua. Uma tarefa que tinham de realizar em pouco mais de 20 minutos, o tempo que restava da aula.
Como sempre, também eu fiz o trabalho proposto; porém, nas duas vertentes: adoro ou detesto estudar Português.
E saiu o que se segue, que depois lhes li.
O texto em que o aluno detesta a língua:
“Estudar Português não é um dos meus passatempos. Infelizmente, o Português é um dragão, um Adamastor inultrapassável. Ah! Se eu conseguisse dobrar essa cabo tormentoso!
Cada vez que pego num livro é como se uma cobra venenosa se enrolasse no meu pescoço e ameaçasse sufocar-me. Cinco minutos a estudar Português são séculos da minha vida que se perdem! Não consigo descobrir beleza nem atração na minha língua materna, por mais que tente vê-la por outro prisma.
A Língua Portuguesa é tão difícil!
Não entendo o entusiasmo da professora por esta língua intragável, desagradável, incómoda, complicada, extremamente gramatical que só me estraga a média e me impede de chegar ao quadro de mérito!”
A proposta de texto para um aluno que adora a língua:
“Ah! Como é bela a Língua Portuguesa! Não me canso de a ler e de a escrever!
A leitura é um cais de embarque para outros mundos! A escrita é como um navio que guio para onde me apetece. Eu sou o homem do leme e senhor do meu destino, rei dos céus, das terras e dos mares.
Quando estudo Português, parto para outras partes inexploradas, ignotas, desconhecidas que nenhum navegador explorou. Quando estudo Português, exploro o planeta nos vinte minutos em que tenho de escrever o texto.
Português! São poucos os que percebem esta língua, embora sejamos milhões a falá-la. Muitos menosprezam-na e não lhe dão o mérito merecido; outros adoram-na e elevam-na à fama imorredoira como Camões, Fernando Pessoa, Saramago.
Eu (a minha humilde pessoa) sinto-me uma fénix renascida sempre que ouço, leio ou escrevo a Língua Portuguesa”.
Todos sabem que a minha posição é a segunda, mas perante um exercício que tem de ser feito, temos de nos desdobrar e atuar de acordo com o pedido Assim fiz.
Em qual das fações se situa? Espero sinceramente que adore a Língua Portuguesa de que nos podemos orgulhar pois é uma das mais faladas mundialmente (no 5º ou 6º lugar, não se entendem!) com os 260 milhões de falantes e as nuances e riqueza vocabular que foi adquirindo com as diferentes roupagens, sotaques e colorido que os vários países e comunidades lusófonos lhe foram dando.
É, sem dúvida, uma das mais difíceis e extremamente gramatical, mas tem uma beleza única.
Não demos só novos mundos ao mundo, demos-lhe também uma língua muito antiga e de uma extraordinária beleza.
Teresa Portal
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