Trinta-por-uma-linha


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Alexandra Maria Duarte

vence 2ª edição do Concurso LabDEC

Procuram-se: distribuidores de arco-íris, de Alexandra Maia Duarte, é uma obra de literatura infantojuvenil que se destaca desde a primeira linha pela inventividade narrativa, pelo humor inteligente e pela extraordinária sensibilidade poética com que constrói o seu universo. Trata-se de um texto que alia o nonsense à sabedora, o jogo de linguagem à profundidade emocional, sem nunca perder de vista o seu principal público: os leitores mais jovens, atentos e imaginativos.

O enredo parte de um anúncio enigmático que convida o protagonista — um pequeno duende de 77 anos — a tornar-se distribuidor de arco-íris. A partir daqui, desdobra-se uma narrativa de descoberta, onde a viagem exterior se cruza com uma odisseia interior: aprender a fazer, embalar e entregar arco-íris implica conhecer os ingredientes do mundo, mas também os do coração.

A escrita é profundamente marcada por um lirismo desconcertante e por um humor delicado e metafórico, que tanto diverte como comove. As repetições intencionais (“se ele o disse, deve ser verdade”, “muito simpático da parte dele, não acham?”) constroem um ritmo encantatório que embala o leitor e o aproxima do tom oral das histórias tradicionais. O narrador, ingénuo e sagaz, oferece-nos um olhar simultaneamente pueril e crítico sobre o mundo. A sua lógica duendística desmonta os automatismos dos adultos e expõe verdades essenciais com uma simplicidade desconcertante.

O universo criado é uma ode à imaginação: animais que ajudam sem fazer perguntas, florestas que aparecem e desaparecem, moinhos que moem o farelo dos sentimentos, árvores de biscoito, campos de algodão-doce, aves de transporte e cogumelos que escondem escolas. Mas o maravilhoso nunca é gratuito: cada elemento serve a pedagogia subtil da narrativa, que ensina sem moralizar.

A estrutura do livro — em capítulos curtos com títulos sugestivos — favorece a leitura fragmentada, sem perder o fio narrativo. O protagonista, que começa como um simples "distribuidor de arco-íris", termina como símbolo de uma missão maior: levar esperança, cor e alegria onde há tristeza, ausência ou silêncio. O clímax, na Aldeia do Riso Perdido, é de uma beleza simbólica rara: o arco-íris, liberto, desencadeia risos invisíveis que povoam um pote aparentemente vazio. A mensagem é clara, sem ser simplista: o essencial não se vê, mas sente-se — no coração, nas pipocas que lá estalam, nos desejos que se realizam sem ouro.

Em suma, Procuram-se: distribuidores de arco-íris é uma obra profundamente literária, de rara qualidade estética, que trabalha com mestria o fantástico, o simbólico e o poético. Fala às crianças com inteligência e respeito, e oferece aos adultos múltiplas camadas de leitura. É um hino à gentileza, à sensibilidade e à imaginação como instrumentos de transformação do mundo.

Parabéns, Alexandra Maria Duarte!

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