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Como escrever um microconto?

As histórias não se medem aos palmos:

Como escrever um microconto?

Os contos fazem parte da nossa cultura, seja para transmitir uma tradição oral com centenas de anos ou simplesmente para transportar o leitor para outro mundo. Mas acontecerá o mesmo com microconto? Será que a única diferença entre eles é apenas o tamanho? Se o microconto é mais pequeno, então é mais fácil de escrever? Antes de sabermos a resposta a todas estas questões é necessário perceber o que são, afinal, microcontos.

O que são microcontos?

O conceito que tendemos a resumir apenas em contos mais pequenos do que os tradicionais, poderá ter algumas caraterísticas que o distinguem. A ideia base é, de facto, uma narrativa de poucas palavras, mas não é por esse motivo que não conta uma boa história com contexto, ação e personagens. Então qual é a grande diferença entre contos e microcontos?


O microconto, devido ao seu tamanho, não pode (nem deve) ser um texto exaustivo, com diversas explicações e caraterizações, por isso deixa sempre “pontas soltas”. Através delas, o leitor deve envolver-se na história e usar a sua criatividade para as completar. Assim, a grande diferença entre contos e microcontos é o modo como o leitor é convidado a participar no enredo – ainda que inconscientemente. Enquanto os contos apenas transmitem uma narrativa, os microcontos sugerem algo ao leitor, alimentando a sua curiosidadee estimulando a sua imaginação – criando, assim, a sua própria história e imaginando uma narrativa única. Vejamos um famoso exemplo de 37 letras: “Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”. Este microconto de Augusto Monterroso leva o leitor a imaginar o que aconteceu antes e depois do que foi relatado – como a ação, o contexto, o espaço temporal e, até mesmo, as emoções das personagens.



Apesar dos microcontos serem conhecidos pelo seu minimalismo, isso não significa que estes sejam apenas escritos para o público infantil ou sejam inferiores aos tradicionais. Estes textos têm um público muito amplo e muitas vezes necessitam de um grande esforço, devido à limitação de palavras (capacidade de síntese) e à criatividade exigidas. Mas como é que surgiu este conceito? A origem deste tipo de contos não é bem definida, mas muitos estudiosos acreditam numa de três opções:


· Sempre existiram os microcontos, mas na forma de tradição oral

· Este género surgiu com a evolução da escrita

· A origem dos microcontos só pode ser determinada a parir do século XX, com o aparecimento das novas tecnologias


Caraterísticas dos microcontos

O breve texto dos microcontos deve ser principalmente caraterizado pela abordagem simples e direta e, evidentemente, pelo seu microtamanho. Ou seja, a narrativa deve apenas conter o essencial, tanto das personagens (se as tiver), como do contexto – muitos textos nem fazem referência ao espaço e ao tempo – e o seu tamanho deve ser limitado. Apesar de não existir um padrão que defina o que é (ou não) um microconto, algumas definições estabelecem o limite até 150 caracteres (incluindo espaços), devido à forte ligação que estes têm com as novas tecnologias. Isto é, inicialmente acreditava-se que este texto deveria enviar-se por SMS, por isso os caracteres tinham de ser limitados – à semelhança do que ainda acontece hoje na rede social Twitter.


Além da grande capacidade de síntese que o autor deve ter, este também deve optar por utilizar argumentos simples, evitar descriçõese reduzir o tempo entre acontecimentos. Por fim, para cumprir o objetivo dos microcontos, é essencial que haja um bom subtexto que capte a atenção do leitor e estimule a sua curiosidade e criatividade. Por outras palavras, o que fica implícito ou o que é dito entrelinhas ao leitor é fundamental para alimentar a sua imaginação e o seu interesse. A par deste, o título também deve ter essas funções e despertar a atenção do leitor de forma imediata.



Dicas para escrever um microconto

Um microconto deve ter narrador, personagens, espaço e tempo. Apesar das três últimas serem opcionais, o que não pode mesmo faltar num texto destes é intensidade, criatividade e capacidade de despertar o interesse do leitor. Confere abaixo algumas dicas para escreveres o teu microconto:


· Qualquer assunto pode ser inspiração para um microconto – uma palavra, uma pessoa, uma notícia, um objeto, um acontecimento ou, até mesmo, um alimento.


· Os ingredientes mais importantes de um microconto são a originalidade, a brevidade e surpresa.


· Um bom desfecho é fundamental, por isso muitos escritores começam por este passo.


· Não descrevas tudo com todos os detalhes: deves decidir cuidadosamente o que descreves, mas mais importante do que isso é decidir o que vai ficar implícito.


· A escolha das palavras é muito importante, por isso deves apostar num texto simples e de fácil compreensão.


· Deves ser conciso/a naquilo que escreves, deste modo quanto menos palavras melhor, mas lembra-te: um microconto não é um resumo!


· A maior parte dos microcontos tem caráter humorístico, mas não confundas o teu texto com uma anedota (o teu objetivo pode ser divertir o leitor, mas também é envolvê-lo e despertar curiosidade).



Os microcontos têm a capacidade de fomentar não só a escrita e a criatividade, como também a leitura em todas as faixas etárias. Enquanto os adultos se podem divertir com microcontos humorísticos, as crianças podem trabalhá-los segundo o seu tema, a sua mensagem ou, até mesmo, o seu desfecho (ou a falta dele). Já no que toca aos jovens, estes têm tendência para ler textos mais curtos e simples, por isso, se fores escritor, os microcontos podem diversificar o teu público e fortalecer a tua presença online.


Se ainda não te sentes preparado/a para escrever um microconto, podes procurar um curso ou um workshop que te ajude.


Queres escrever um microconto?


Bibliografia

Conde, X., & Hernández, A. (2014). A microficção infantil: um velho e novo género. Em Atas do 10º Encontro Nacional - 8º Internacional - de Investigação em Leitura, Literatura Infantil e Ilustração (pp. 117-139).

Souza, V. d. (2021). Pequeno como um dinossauro: microconto, um género autónomo.

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