Somos pela escrita, edição e promoção do livro e da leitura infantil e juvenil
Descobre as nossas 5 dicas!
Todos sabemos que a atenção dos mais jovens é facilmente captada pelas cores vivas, pelas formas familiares ou surpreendentes e pelo que é animado – a ilustração nos livros infantojuvenis age simultaneamente como chamariz e como auxiliar para a compreensão do conteúdo. Segundo Martin Salisbury, a ilustração é uma forma artística subtil e complexa capaz de estabelecer muitos níveis de comunicação, e de deixar uma mensagem profunda na consciência da criança leitora.
Antigamente, a ilustração infantojuvenil era vista como uma arte pouco sofisticada, mas o seu panorama começou a mudar nos Estados Unidos, nos anos 60, com o surgimento de obras fantásticas e de autores como Maurice Sendak, com o seu livro In the night kitchen. Começou a questionar-se aquilo que as crianças valorizam e compreendem.
Atualmente, há um crescimento constante na área da ilustração infantojuvenil, e surgem cada vez mais autores, ilustradores e editoras dispostas a apostar na arte. Se és ilustrador, ou se és um escritor com vontade de explorar as tuas capacidades e tornar a tua história colorida e visual, as seguintes dicas são para ti!
Antes de começar a desenhar, deves estar ciente das técnicas existentes e daquelas às quais te adaptas melhor. Seja trabalho tradicional ou digital, explora as tuas opções: pesquisa, experimenta técnicas e materiais, inspira-te com o trabalho de outros artistas e pratica muito. Uma boa forma de praticares todos os dias, ou sempre que tiveres tempo para tal, é manter um diário gráfico – um caderno ou bloco do formato que te convenha, onde apontarás ou desenharás tudo aquilo que te vier à cabeça – nunca se sabe quando irá surgir um momento de inspiração!
Para ilustrar um livro, deves ler o seu conteúdo na totalidade e compreender na totalidade o objetivo do autor (se o autor fores tu próprio/a, algum deste trabalho já está bastante adiantado!). Iniciando a ilustração, com as técnicas e metodologia definidas, podes seguir as próximas dicas.
É da maior importância estar consciente do público para quem o livro se dirige. Há diferenças entre desenhar para crianças muito pequenas, em idade préescolar, e para jovens de 11 ou 12 anos. Para os mais pequenos, deves ter em conta que as formas devem ser dotadas de menor complexidade, as cores mais marcantes e as tipografias adaptadas (maiores ou simplificadas, ou até semelhantes às manuscritas). Se o trabalho se destinar a jovens de idade um pouco mais avançada, podes explorar um pouco mais a complexidade do desenho, misturar cores e motivos de forma mais livre, sabendo que o teu público vai ser capaz de interpretar o que ilustraste.
Deves então, fazer um levantamento de quais são as necessidades do público ao qual se destina o livro que vais ilustrar, perceber o nível de compreensão das crianças em questão e definir quais os elementos que lhes causarão maior interesse. É um pouco como fazer um estudo de mercado: deves ainda estudar o trabalho que já foi feito na área e inspirar-te nele.
A primeira coisa que te vai apetecer desenhar é, 9 em cada 10 situações, a personagem principal ou uma das personagens que mais te chame à atenção! O nascimento de uma personagem varia muito conforme os artistas. O ponto de partida pode consistir nas descrições detalhadas no texto acerca das feições, movimentos, aspeto físico ou vestuário da personagem. Também podes, de forma consciente ou, muitas vezes, inconscientemente, basear o teu desenho em alguém real. Se fores o autor do texto, a criação visual de personagens ocorre de mão dada com a criação da narrativa – podes, sem querer, ilustrar alguma personagem que ainda não exista e encaixe na narrativa!
Desenvolver uma personagem requer duas coisas: compreensão e interesse pelos comportamentos humanos e a capacidade de os conseguir expressar no plano bidimensional. Mesmo que as tuas personagens sejam animais, personalizaas, aplica-lhes emoção e cariz humano. Desta forma, a empatia será garantida.
Começa por fazer muitos esboços – na maior parte das vezes, a primeira versão que desenhares não vai ser o aspeto final da tua personagem. Só após alguns sketches poderás comparar, acrescentar ou retirar elementos que aperfeiçoem o seu físico, a sua expressão fácil e corporal e a sua personalidade. Em seguida, quando definires o desenho padrão, pratica o movimento: desenha a mesma personagem com várias poses e expressões. Podes ainda desenhá-la interagindo com o ambiente, criando outras personagens ou objetos que possam demonstrar a forma como ela se insere num contexto.
Se algum detalhe que consideres importante não se encontrar explícito no texto, inventa – com a aprovação do autor, claro (caso não sejas tu mesmo/a) – cria detalhes à tua maneira. Faz parte da tua função, enquanto criativo/a, imaginar e definir aquilo que não está à frente dos teus olhos. Por exemplo: se a personagem é divertida, rebelde, é descrita como possuindo uns olhos verdes que refletem a sua vontade de viver e de se aventurar, mas em momento algum é definida ou apresentada a cor do seu cabelo – adiciona-lhe um cabelo vermelho ou laranja, de uma cor viva associada à aventura e à bravura!
Um dos métodos que podes utilizar é a criação de uma “character sheet ou ficha técnica da personagem, em que resumes todos os seus traços físicos e psicológicos, palete de cores, expressões faciais de maior relevância, e quaisquer elementos extra que aches úteis.
Está tudo nas tuas mãos: a forma como visualizamos uma personagem enquanto lemos a sua descrição é diferente para todos os leitores do mesmo livro. Assim, ao criar uma versão visual de uma personagem, estarás a definir aquilo que os leitores irão ver sempre que pensarem nela.
Como é óbvio, não vais ilustrar todas as palavras que compõem o texto, ou todos os momentos, ou todos os parágrafos. Muitas vezes, tens até um limite de ilustrações que podem ser inseridas no livro ou dispões de orçamento limitado. Então, deves selecionar quais os momentos mais propícios à transformação para o visual.
Eleger um momento para ser interpretado visualmente não é uma tarefa tão linear quanto parece. Se artistas diferentes pudessem escolher com total liberdade, não se fascinariam pelas mesmas passagens e ilustrá-las-iam de formas distintas. Ainda assim, há alguns aspetos que podes ter em conta!
Em primeiro lugar, não escolhas apenas os momentos mais dramáticos para os ilustrar. Muitas vezes, estas representações visuais podem ser redundantes relativamente ao que já foi representado por palavras. Poderias criar, sem querer, um momento estático no livro. A ilustração deve complementar o texto, não simplesmente repeti-lo.
Pergunta a ti mesmo/a o que gostarias de ver num livro, que partes do texto seriam mais relevantes para manter o teu interesse na história e quais te surpreenderiam.
Em segundo lugar, decide o tamanho das tuas ilustrações para os diversos momentos: há elementos que funcionam melhor no meio do texto, ou em imagens mais compactadas, pois representam detalhes essenciais e interessantes para o autor, mas não são marcantes o suficiente para ocupar uma dupla página.
E por falar em duplas páginas, em terceiro lugar, escolhe um ou outro momento que seja decisivo ou um ponto de viragem para a criação de duplas páginas: estas causam sempre uma sensação de surpresa no leitor e são a oportunidade ideal para mostrares as tuas capacidades.
Por exemplo, na imagem do livro Alice no País das Maravilhas que apresentamos aqui, o ilustrador mostra o momento em que se dá um ponto de viragem – neste pop-up, observamos Alice a cair e conhecemos os detalhes daquilo que existe na toca de coelho, que poderíamos ter imaginado de outra forma, caso esta passagem não fosse ilustrada. A ilustração também foi escolhida para uma dupla página – pode ser um momento mais dramático da história, mas a ilustração revela detalhes criativos desconhecidos pelo leitor até à observação da imagem. Em suma, utiliza palavras-chave, partes marcantes, detalhes omitidos no texto e nova informação.
O desenho do ambiente envolvente ao momento retratado no texto é essencial para definir, na mente do leitor, onde se enquadra a ação. O tempo, o lugar e a atmosfera devem ser transmitidos de forma convincente pelo artista. Uma das técnicas apropriadas para este trabalho é a utilização de referências históricas, arquitetónicas ou paisagísticas que ajudem o ilustrador a esboçar um cenário. Se o livro retrata uma cidade específica numa época histórica em especial, por exemplo, verifica imagens referentes à época em questão e incorpora os elementos que encontrares no teu desenho. É importante que este material de referência esteja à tua disposição, mas não te prendas nele apenas. Se o teu contexto te permitir visitar o local onde se passa a história, fá-lo. A imersão ambiental é a melhor fonte de inspiração.
Outra coisa que deves ter em atenção é a palete cromática dos teus cenários. Mantendo a fidelidade ao texto e representando o ambiente descrito, certifica-te de que os cenários complementam as personagens e não as diminuem. Se for preciso, não incluas personagens: por vezes, uma representação visual do espaço é mais do que suficiente para captar a essência do momento e atrair o leitor. Um exemplo disto é a famosa representação da rua Diagon Alley no livro Harry Potter e a Pedra Filosofal, em que Jim Kay não incluiu uma única personagem, mas fascinou o leitor com uma visão do espaço que em mais de duas décadas nunca tinha sido aprofundada. Também podemos utilizar este exemplo para reforçar a importância da palete cromática – os tons de castanho, cinza, roxo e verde são bastante representativos e caraterísticos de um mundo mágico como o de Harry Potter.
Deves, ainda, ter em consideração que o ambiente desenhado não pode revelar detalhes do enredo que ainda não devem ser revelados. As sensações, cores, e descrições textuais devem ser captadas, mas não te esqueças, mais uma vez, de adaptar a complexidade do cenário ao tipo de público, livro e conteúdo.
Se não és o autor do texto que estás a ilustrar, e não tens este trabalho já pensado a partir da narrativa, terás de colaborar com o autor do texto, com o paginador e com o editor para que tudo resulte de forma coerente.
A relação entre o texto e a ilustração deve ser de concordância. Para isto acontecer, deves proceder a um planeamento prévio das tuas páginas. Cria um diagrama com as posições do texto inseridas na tua ilustração, de forma a que o autor e o editor consigam compreender o teu objetivo. A imagem certa para o excerto certo – se há coisa desconcertante, é uma ilustração fora de contexto! Este “projeto” pode ser feito manualmente ou de forma digital.
O texto não necessita de ser introduzido apenas debaixo do texto ou em cima do mesmo, à semelhança dos antigos clássicos da literatura infantojuvenil. O texto pode estar no meio da ilustração, dentro dela (pode mesmo fazer parte da ilustração e ser reproduzido pelo artista), espalhado pela página ou até não existir, desde que a sua colocação coincida com o objetivo do conteúdo textual e seja legível.
Quando se trata de literatura infantojuvenil, é da maior importância ter um cuidado redobrado naquilo que diz respeito à coerência e à relação entre um texto interessante e uma imagem chamativa.
O livro nas mãos da criança é um objeto de interação, memorização e absorção de conteúdo – como tal, devemos oferecer apenas o melhor que temos para dar. A ilustração é uma forma de aprendizagem eficiente e divertida. Aventurate pelos caminhos da arte e faz um exercício: desenha a tua própria personagem e, só depois, pensa na sua história. A representação visual é um caminho para a inspiração literária!
Política de Privacidade I Termos e condições
© 2021 | Trinta-por-uma-linha
E-mail: geral@trintaporumalinha.com I Contacto: Rede fixa 226090272 I Rede Móvel 961827165