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Dicas de Escrita de Sarah Waters

Sarah Waters é uma romancista galesa premiada e best-seller, que nasceu em 21 de julho de 1966. É conhecida pelos romances que têm como cenário a sociedade vitoriana. Os seus romances são Tipping the Velvet, Affinity, Fingersmith, The Night Watch, The Little Stranger e The Paying Visitors, que foi selecionado para o Prémio Baileys Feminino de Ficção, em 2015.

Tipping the Velvet, Fingersmith e The Night Watch foram adaptados para o cinema pela para a BBC.

O site: www.sarahwaters.com

1- Lê como um louco.

Mas tenta fazer isso analiticamente - o que pode ser difícil, porque quanto melhor e mais atraente um romance, menos consciente tu estarás dos seus artifícios. Porém, vale a pena tentar descobrir esses dispositivos: eles podem ser úteis para o teu trabalho. Ver filmes também é instrutivo. Quase todo blockbuster moderno de Hollywood é irremediavelmente longo e largo. Tentar visualizar os filmes melhores e imaginar como seriam com alguns cortes radicais é um ótimo exercício na arte de contar histórias. O que me leva a ...

2 - Corta como um louco.

Menos é mais. Muitas vezes leio manuscritos - incluindo os meus - onde cheguei ao início, digamos, do capítulo dois e pensei: "É aqui que o romance deve realmente começar." Uma grande quantidade de informações sobre personagens e história de fundo pode ser transmitida através de pequenos detalhes. O apego emocional que sentes a uma cena ou capítulo vai desaparecer à medida que avances para outras histórias. Sê profissional nisso. De fato ...

3 - Trata a escrita como um trabalho.

Sê disciplinado. Muitos escritores ficam um pouco com OCD sobre isso. Graham Greene escreveu 500 palavras por dia. Jean Plaidy conseguiu 5.000 antes do almoço, depois passou a tarde respondendo a cartas de fãs. O meu mínimo é 1.000 palavras por dia - o que às vezes é fácil de conseguir, e às vezes, francamente, é como cagar um tijolo, mas vou-me obrigar a ficar na minha mesa até chegar lá, porque sei que fazendo isso, estou avançando com o livro. Estas 1.000 palavras podem muito bem ser lixo - frequentemente são. Mas então, é sempre mais fácil voltar às palavras ruins numa data posterior e torná-las melhores.

4- Escrever ficção não é 'autoexpressão' ou 'terapia'.

Os romances são para os leitores, e escrevê-los significa a construção de efeitos astuta, paciente e altruisticamente. Eu penso nos meus romances como passeios em feiras: o meu trabalho é amarrar o leitor ao seu carro no início do capítulo um, em seguida, rodar e conduzi-lo através de cenas e surpresas, numa rota cuidadosamente planeada e com ritmo.

5 – Respeita as tuas personagens, mesmo as secundárias.

Na arte, como na vida, cada um é o herói de sua própria história particular; vale a pena pensar sobre quais são as histórias das tuas personagens secundárias, mesmo que elas possam cruzar-se apenas ligeiramente com as do protagonista. Ao mesmo tempo ...

6 - Não sobrecarregues a narrativa.

As personagens devem ser individualizadas, mas funcionais - como figuras duma pintura. Pensa no Cristo Mocked de Hieronymus Bosch, em que um Jesus sofredor pacientemente está rodeado por quatro homens ameaçadores. Cada uma das personagens é única e, ainda assim, cada um representa um tipo; e, coletivamente, formam uma narrativa que é ainda mais poderosa por ser construída de maneira tão rígida e económica. Num tema semelhante ...

7 - Não substituas.

Evita as frases redundantes, os adjetivos que distraem, os advérbios desnecessários. Os iniciantes, especialmente, parecem pensar que escrever ficção requer um tipo especial de prosa floreada, completamente diferente de qualquer tipo de linguagem que possamos encontrar na vida cotidiana. Este é um equívoco sobre como os efeitos da ficção são produzidos, e pode ser dissipado obedecendo à Regra 1. Ler parte da obra de Colm Tóibín ou Cormac McCarthy, por exemplo, é descobrir como um vocabulário deliberadamente limitado pode dar uma soco emocional.

8 - O ritmo é crucial.

Uma boa escrita não é suficiente. Os alunos de redação podem ser ótimos na produção de uma única página de prosa bem trabalhada; o que, às vezes, falta é a capacidade de levar o leitor a uma viagem, com todas as mudanças de terreno, velocidade e humor que uma longa viagem envolve. Mais uma vez, acho que ver filmes pode ajudar. A maioria dos romances vai querer chegar perto, demorar, voltar, seguir em frente, de maneira bem cinematográfica.

9 - Não entres em pânico.

No meio da escrita de um romance, experimentei regularmente momentos de terror de gelar as entranhas, ao contemplar o disparate na tela diante de mim e ver além dela, em rápida sucessão, as críticas escarnecedoras, o constrangimento dos amigos, a carreira decadente, a renda minguante, a casa recuperada, o divórcio.... Trabalhar obstinadamente em crises como essa, no entanto, sempre me levou a bom termo. Deixar a mesa por um tempo pode ajudar. Falar sobre o problema pode-me ajudar a lembrar o que eu estava a tentar alcançar antes de ficar preso. Fazer uma longa caminhada quase sempre me faz pensar sobre o meu manuscrito de uma maneira ligeiramente nova. E se tudo mais falhar, há a oração. São Francisco de Sales, o santo padroeiro dos escritores, muitas vezes me ajudou numa crise. Se quiseres ir mais longe, podes tentar apelar para Calliope, a musa da poesia épica, também.

10 - O talento supera tudo.

Se fores realmente um grande escritor, nenhuma destas regras precisa de ser aplicada. Se James Baldwin sentisse a necessidade de acelerar um pouco o ritmo, nunca teria alcançado a intensidade lírica estendida da Sala de Giovanni. Sem a prosa “sobrescrita”, não teríamos nada da exuberância linguística de um Dickens ou de uma Angela Carter. Se todos fossem económicos com os seus personagens, não haveria Wolf Hall... Para o resto de nós, no entanto, as regras continuam a ser essenciais. E, o mais importante, apenas entendendo para que servem e como funcionam podes começar a experimentar quebrá-las.

E estas são as Dicas de Escrita de Sarah Waters!

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