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Livros clássicos: que autores atuais serão reconhecidos no futuro?
Quais serão os grandes clássicos da nossa geração? Se costumas ler clássicos, certamente já te passaram pelas mãos o Romeu e Julieta, o Orgulho e preconceitoou, até mesmo, o Dom Casmurro de Machado de Assis. Nomes como Os Miseráveis ou Crime e castigo costumam soar nas nossas cabeças quando este tema está em cima da mesa, mas que outros nomes podemos mencionar? A Odisseia de Homero é dos clássicos mais antigos do mundo e Dom Quixote de la mancha seria impossível esquecer. Na literatura portuguesa não podemos deixar de indicar Os Lusíadas, Os Maias ou As viagens na minha terra. Já na vertente infanto-juvenil, destacamos O principezinho (Antoine de Saint-Exupéry), Os contos de Grimm, a Alice no país das maravilhas (de Lewis Carroll) e os Contos de Perrault(como o Capuchinho vermelho e a Cinderela).
Todas estas obras são clássicos atualmente, mas quais serão as que os nossos bisnetos irão ler?
Para entendermos quais livros da nossa geração serão grandes clássicos num futuro distante é necessário, antes de mais, perceber o que faz um livro tornar-se num deles. Independentemente dos esforços para caracterizar “livro clássico”, muitos acreditam que este conceito não é objetivo, uma vez que cada obra tem caraterísticas diferentes. No entanto, há quem acredite que o cânone é concebido através da junção da linguagem e do conteúdo – ou seja, da história e do modo como ela é contada. Apesar disso, a maioria dos estudiosos considera que não existe uma fórmula ou um método infalível que transforme uma obra num clássico inesquecível, mas concordam que a intemporalidade é um critério significativo. Italo Calvino dizia que “Um clássico é um livro que nunca terminou o que tem a dizer”, por isso certamente falamos sobre obras que atravessam fronteiras, séculos e gerações – e muitas delas continuam a ter uma mensagem atual para o leitor.
O papel da crítica no reconhecimento dos clássicos
Ainda que a crítica literária já não esteja tão presente nos meios de comunicação tradicionais, estes continuam a moldar a opinião dos leitores o que influencia, mesmo que indiretamente, a (possível) construção de um clássico. É sempre relevante relembrar o papel que estes meios tiveram para que algumas obras atingissem o estatuto que têm hoje, mas atualmente os leitores são mais influenciados pelo marketing personalizado e pelas redes sociais – onde podem encontrar vários conteúdos sobre as obras que quiserem. Será que os clássicos do futuro estão, neste momento, no nosso Facebookou num vídeo do Tiktok? Antigamente, a popularidade de uma obra era muito importante, no entanto a massificação do livro e o olhar económico sobre ele levam-me a crer que este critério já esteja em desuso.
Que autores serão reconhecidos num futuro longínquo?
Muitos dos livros que hoje se consideram clássicos, daqui a 100 anos continuarão a sê-lo, fazendo jus à sua genialidade e intemporalidade já mencionadas – como será o caso d’Os Miseráveis de Victor Hugo ou de 1984 de George Orwell. Por outro lado, temos ainda os clássicos que, na sua época, passaram despercebidos e que alcançaram o sucesso apenas depois da morte do seu autor (por exemplo, A metamorfose de Kafka). Será que há algum livro na nossa estante do qual não gostamos assim tanto que será um grande clássico daqui a 80 anos?
Adiante: certamente grandes nomes como José Saramago, Annie Ernaux e Salman Rushdie irão continuar a soar no futuro, mas a dúvida que se impõe é acerca dos que passam mais longe das luzes da ribalta. Que autores irão ler os filhos dos nossos netos? Será que os critérios para eleger os grandes clássicos vão ser os mesmos?
Acredito que obras com assuntos impactantes e que transmitam certos valores possam pertencer a qualquer linha cronológica se destaquem facilmente, por isso as obras de Djamila Ribeiro, Valter Hugo Mãe e as da autora de Heartstopper (Alice Oseman) deverão ser mencionadas. Por outro lado, já no género Fantasia, não podemos esquecer livros como O senhor dos anéis, Hunger Games e, o clássico da literatura juvenil, Harry Potter.
Na literatura portuguesa, além de Valter Hugo Mãe, António Lobo Antunes, João Pedro Médessere João Tordo serão nomes que (provavelmente) surgirão nas estantes das livrarias no ano de 2100. Já no que toca à literatura infantil, cada vez se veem mais livros acerca de temáticas importantes e intemporais, como a religião, as relações interpessoais, a orientação sexual e, até mesmo, a autoestima. Muitos são os temas “difíceis” de abordar e de explicar às crianças, mas cada vez são mais frequentes na literatura infanto-juvenil – e ainda bem. Para além disso, é importante mencionar o facto de muitos clássicos de hoje estarem a ser reescritos de acordo com os valores atuais(como, por exemplo, A cigarra e a formiga ou A carochinha). A originalidade aliada a esses valores é cada vez mais reconhecida pelo público e, provavelmente, no futuro será ainda mais, por isso acredito que a literatura infanto-juvenil terá o valor e a honra que merece. A título de exemplo, livros como Pardalita (de Joana Estrela), A guerra (de José Jorge Letria) e Meu avô, rei de coisa pouca (de João Manuel Ribeiro) deveriam ter o seu devido destaque no futuro.
Poderia continuar a mencionar obras que considero intemporais ou autores de hoje que considero que estarão nas bocas do mundo amanhã, mas, tal como já foi dito, muitos estudiosos acreditam que um “clássico” não tenha critérios objetivos. Sabemos apenas que os livros que consideramos incríveis hoje, poderão não o ser amanhã e vice-versa: as que passam despercebidas hoje podem ser grandes obras-primas daqui a 100 anos. Resta-nos apenas refletir acerca do livro que temos em cima da mesa da cabeceira e perguntar-nos se os netos dos nossos filhos algum dia o lerão.
E tu? Que livros da nossa geração consideras que possam ser grandes clássicos num futuro distante?
Beatriz Borges
Notas bibliográficas:
Pastore, M. (2012). Como um clássico se torna um clássico? A fronteira entre arte e entretenimento na literatura. Anagramas revista.
Souza, A. (2022). O que faz um livro virar clássico? Obtido de Tag Blog: https://www.taglivros.com/blog/o-que-faz-um-livro-virar-classico/
Steph. (2020). Quais as caraterísticas de um livro clássico? Obtido de O megascópio: https://www.omegascopio.com.br/leitura/quais-as-caracteristicas-de-um-livro-classico/
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