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O poema como um todo

LIBERDADE

O poema é

A liberdade

Um poema não se programa

Porém a disciplina

- Sílaba por sílaba –

O acompanha

Sílaba por sílaba

O poema emerge

- Como se os deuses o dessem

O fazemos

Sophia de Mello Breyner Andresen - O nome das coisas (1974-75)

O poema como um todo: a harmonia de forma e conteúdo

Alguns defendem que a função da poesia é a de instruir e deliciar, residindo a instrução no conteúdo e a delícia na forma. Mas, é preciso entender o poema como um todo...

A distinção entre forma e conteúdo de um poema não é aceitável. O poema é um todo, sendo que o seu «conteúdo» não pode ser dito de forma satisfatória numa paráfrase em prosa. Isto quer dizer que a poesia não permite a paráfrase sem que algo de substancial se perca. Na poesia, o pensamento e o modo de expressão são inseparáveis.

Jean-Claude Pinson, por exemplo, no se livro Para que serve a poesia hoje? (2011) afirma que «o poema não age só no leitor pelo ritmo que produz, mas também pelo sentido que sugere. Sentido esse que é obviamente indissociável das formas e figuras (sonoras, rítmicas, sintáxicas, retóricas…) que contribuem para dispô-lo e para moldá-lo como conteúdo (…)»

O sentido do poema

E acrescenta: «o sentido do poema também está sempre suspenso (…) - suspenso pela forma, suspenso da forma». A paráfrase serve de indicador da qualidade da poesia, ou seja, «a inseparabilidade de forma e conteúdo num poema é a marca da sua qualidade», ou ainda, «quanto mais difícil a paráfrase, maior a poesia».

Concebendo a poesia como uma totalidade de forma e conteúdo, esta terá de «dar algo à mente» e não se limitar a «deliciar o ouvido». Porque «se o pensamento de um poema pode ser reafirmado em prosa sem perda significativa, não pode ser o poema, estritamente falando, que está a dirigir a mente mas apenas o que o poema diz».

Neste sentido, «o que precisa de ser mostrado, então, é que a direção mental é por vezes conseguida pelos recursos da própria poesia – ritmo, rima, aliteração, assonância, etc., e, acima de tudo, imagética», ficando assim demonstrado que «a forma poética pode ser uma parte essencial do que diz um poema e não uma mera adição agradável que lhe é feita.

Assim, a poesia, em termos de compreensão literária, permite e possibilita também uma compreensão do sentido figurado, que não dispensa o sentido literal, mas articula-os de forma inseparável, desencadeando mesmo emoções de tipo narrativo e estético.

A poesia desencadeia ainda um processo de resposta em que os leitores constroem interpretações cognitivas, repensando as suas respostas iniciais, comparando com outros os seus pontos de vista diferentes e similares, e incorporando nas suas respostas escritas as reações a outras perspetivas de compreensão.


João Manuel Ribeiro

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