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O que é a Blackout Poetry?

Muitas vezes os autores procuram inspiração nos escritores que os precederam e, talvez um dia, os seus livros venham a influenciar autores futuros. A criação literária sofre influência constante de fatores externos, mas também de fatores internos ao próprio cânone literário. Já Rolland Barthes acreditava que o autor moderno (a que chama de scriptor) servia apenas para “coser” fragmentos de diferentes textos já existentes numa tentativa de criar algo novo.


É neste contexto que encontramos a chamada blackout poetry. O conceito é simples: seleciona-se um texto (poderá pertencer a um livro, jornal, revista, canção, etc.); depois, procura-se nesse texto as palavras que se adequam ao poema que pretendemos escrever e, colorindo a página a preto (riscando o texto) e deixando apenas essas palavras e expressões intocadas, cria-se o poema. As possibilidades são infinitas!


Esta técnica permite que um só texto dê origem a vários novos poemas, com diferentes combinações de palavras e temas. Pela sua capacidade de alterar conteúdos e significados, a blackout poetry tem uma história muito ligada à intervenção política, social e ambiental, daí os textos originais mais populares serem discursos políticos, textos históricos e artigos das notícias. Muitos autores veem na blackout poetry uma oportunidade de questionarem o que leem no dia a dia e trazerem à superfície as questões que realmente os preocupam.


Apesar de ter as suas raízes no século XVIII, só em anos mais recentes é que esta forma de poesia começou a ganhar terreno. Assim sendo, ainda é uma forma literária em evolução, e novos métodos de criação vão aparecendo. Atualmente, a técnica da coloração manual já não é a única utilizada: muitos são os que optam por realizar o processo a computador e a técnica dos recortes é também já empregada para substituir os marcadores. Adicionalmente, sua leitura já não é exclusivamente sequencial como é o caso, por exemplo, do mapping, em que o autor conecta as palavras com linhas, indicando a ordem em que deve ser lido.


É de notar que, apesar da recente popularidade deste tipo de poesia (principalmente nas redes sociais), surgem dúvidas sobre a sua legitimidade. Até que ponto se pode alterar um texto de outro autor e publicá-lo como nosso? Em países como os Estados Unidos da América, a resposta poderá ser mais fácil de dar, devido às suas políticas de Fair Use, mas na União Europeia a situação torna-se mais complicada. Poderíamos argumentar que o trabalho final é demasiado distante da obra original tanto em texto como em tema e que, por esse motivo, constitui uma obra independente, ou até que (dependendo da obra) alguns autores não possuem os direitos patrimoniais sobre a mesma. No entanto, pelo menos na União Europeia, mesmo sem os direitos patrimoniais um autor continua a reter os direitos morais sobre a sua obra. Se o intuito é partilhar a sua poesia ou até mesmo publicá-la, a melhor opção seria mesmo a utilização de textos que se encontram já em domínio público!


Este método de criação de poesia através de textos pré-existentes é ideal para desenvolver a mente criativa, podendo surgir até como modo de introdução à escrita poética. Por esse mesmo motivo, revela-se uma forma interessante de abordar a criação poética junto de crianças, permitindo que estas expressem a sua imaginação a partir de textos que já conhecem e apreciam.


E tu? Alguma vez criaste blackout poetry ou tens intenção de experimentar este método?

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