A ironia acontece na vida e na literatura quando uma pessoa diz ou faz algo oposto daquilo que se espera. O texto literário sempre recorreu à ironia para fazer críticas sociopolíticas ou como recurso humorístico. É uma figura de estilo marcada pela sua subtileza e que traz maior profundidade ao texto e, por isso, textos com ironia pedem por leitores mais críticos e atentos ao detalhe, às entrelinhas e ao contexto.

No entanto, sabias que há vários tipos de ironia que podes usar na tua escrita?

O termo “ironia” tem origem na palavra grega eironeia, que significa “ignorância fingida”. Os escritores sempre usaram os diferentes tipos de ironia como um recurso literário para criar suspense, humor ou drama.

Tu também podes usar estas estratégias, por isso, este artigo vai explicar-te quais são os quatro principais tipos de ironia e para que fins os podes utilizar.

Tanto as pessoas como as personagens literárias usam este mecanismo para expressar frustração ou irritação ou enfatizar um ponto.

Para ilustrar, eis aqui algumas frases que exemplificam a ironia verbal:

Tens uma personalidade tão doce quanto o fel!

Esta festa é tão divertida quanto uma sala de espera do hospital!

Que bom que o elevador avariou! Só vou ter de subir até ao 12º andar carregado de livros!

A ironia dramática ou trágica corresponde a quando o escritor deixa o leitor saber de algo que o personagem desconhece. Isto cria um efeito de suspense, de expectativa e de certo desconforto no leitor, que cresce à medida que a audiência espera para ver como é que a personagem vai reagir e lidar com a situação que se aproxima.

Por exemplo, em Romeo e Julieta, ambos os jovens apaixonados tomam o veneno, a pensar que o outro já morreu. Aqui, a ironia dramática resulta do facto de o público ansiar para que eles saibam a verdade antes de se precipitar e tomarem esta ação final.

A ironia cómica é usada para efeitos cómicos, como na sátira.

Jane Austen era perita em ironia! Em Orgulho e Preconceito, a autora utiliza este tipo de ironia, introduzindo o romance com uma frase que insinua que são os homens que andam à caça de uma esposa, no entanto, ao longo da narrativa, ela deixa claro que, na verdade, é o contrário, satirizando a situação.

A ironia de situação acontece quando um desfecho expectável é subvertido. Esta forma de ironia pode também ser usada para criar suspense, humor e surpresa na tua escrita.

Por exemplo, se um condutor profissional se despista contra uma árvore ao regressar a casa, depois de ter recebido o prémio de "melhor condutor", isto é ironia de situação, pois não se esperava que alguém tão reconhecido por conduzir bem viesse a ter um acidente ao voltar para casa.

Tenta manter um olhar crítico e identificar ironia em séries, filmes e livros.

Por exemplo, no filme O Feiticeiro de Oz, o grande e poderoso feiticeiro, afinal, não era mais do que um homem comum, enquanto a Dorothy, que estava desesperada para encontrar o feiticeiro e pedir a sua ajuda para voltar para casa, sempre teve o poder necessário para o fazer sozinha.

Avalia situações como estas e tenta pensar em formas de incorporar situações com este teor irónico na tua escrita, subvertendo as expectativas para a personagem.

Um ponto de vista omnisciente é quando o leitor sabe mais do que as personagens, como em Drácula, de Bram Stoker. Ao escolheres este ponto de vista, estarás a gerar suspense, porque o leitor anseia que a personagem descubra o que ele já sabe para ver como ela reagirá e que efeitos isso terá na narrativa.

Ou então, podes fazer o oposto, dando a entender ao leitor que a personagem sabe mais do ele, uma técnica muito usada por Agatha Christie nos seus policiais.

Se usares o ponto de vista omnisciente, o teu narrador poderá contar um evento paralelo que acontece simultaneamente. Este método faz com que o teu leitor saiba de acontecimentos dos quais uma das personagens não tem conhecimento. Esta é uma ótima forma de gerar ironia dramática.

A ironia é, definitivamente, uma ferramenta útil, mas pode tornar-se cansativa muito rapidamente.

Um tom excessivamente sarcástico pode tornar-se irritante ao fim de algum tempo e um caso muito óbvio de ironia dramática pode tornar-se frustrante para o leitor, levando-o a questionar por que motivo a personagem não entende, se é algo tão evidente.

Dominares a ironia e aplicá-la na escrita corretamente é, normalmente, um processo de tentativa erro, por isso, pede a alguém que te ajude, lendo o teu trabalho, e pergunta-lhe se consegue identificar elementos irónicos.

Conta-nos, nos comentários, se já usas esta ferramenta literária ou se estás disposto(a) a experimentar!

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