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Como se consolidou a Literatura Infantojuvenil como a conhecemos hoje?
Sabias que apesar de o surgimento da Literatura Infantojuvenil se ter consolidado no século XVIII, como já te contámos no artigo sobre a história da LIJ, os livros infantis e juvenis só começaram a ser parecidos com os que hoje fazem as maravilhas das nossas crianças a partir dos anos 70?
É verdade!
Os anos 60 e 70 corresponderam a décadas de grande desenvolvimento económico e cultural nas sociedades ocidentais, transformando-as em sociedades pós-industriais. Estas mudanças tiveram enormes repercussões, fazendo com que uma nova versão do mundo e da infância surgissem.
Um mundo novo requeria novas formas de educar futuros cidadãos, pelo que o setor editorial que se dedicava ao nicho infantojuvenil teve de rever e adequar a sua proposta literária e educativa aos leitores nascidos no seio desta sociedade que se reinventava.
Mas quais foram as mudanças que impulsionaram a LIJ para aquilo que ela é hoje?
Até à década de 70 do século passado, a Literatura Infantojuvenil servia, maioritariamente, o propósito de influenciar as crianças a serem boazinhas,era coberta de pedagogia e alicerçada nas correntes realistas que predominavam no pós-guerra, rejeitando traços de fantasia e imaginação. No entanto, após o Maio de 68, as correntes realistas e os valores cívicos e educativos próprios da década de 60 começaram a ser contestados.
Numa sociedade ocidental pós-industrial e capitalista, economicamente estável, que começa a adotar a prática do ócio e do consumo e que não vive em constante luta pela sobrevivência, mas com consideráveis níveis de conforto e segurança, surge cada vez mais espaço para o debate de valores, para se falar de problemas, de sentimentos e sobre a adaptação pessoal às mudanças externas.
Apesar da ameaça da guerra fria, a sociedade já não viva em constante sobressalto, pelo que se começaram a questionar os comportamentos sociais consensualizados.
Ao começar a questionarem-se o status quo e as normas estabelecidas, a Literatura Infantojuvenil acompanhou o vento da mudança e adotou uma postura mais crítica em detrimento da sua antiga posição moralizadora, o que permitiu a sua modernização e a ampliação das suas fronteiras a temas por ela nunca antes explorados.
Em consequência das transformações sociais e culturais, os livros para a infância e juventude começaram a refletir o panorama sociocultural que os rodeava, enchendo-se de humor, fantasia e leveza; de personagens ociosos, gentis, mas humanas e disparatadas, que se deparavam com a luta contra a ambiguidade dos sentimentos, com a complexidade dos conflitos e com as mudanças de perspetivas.
Esta constelação de novos valores traz, então, a introdução de novos temas!
Ao considerar-se que as crianças deveriam ser preparadas para a dura complexidade da vida, houve uma enorme rotura nas restrições temáticas na Literatura Infantojuvenil, pois já não se acreditava na mitificação da inocência infantil. Assim a inevitabilidade do conflito, o enfrentamento com os sentimentos e com a dor -sob a forma da doença, da loucura, da morte ou da injustiça-, e tudo o que representava a modernização do ocidente -as famílias monoparentais, os fluxos migratórios, o urbanismo, o consumismo ou a luta contra discriminação - são novos temas que preenchem as páginas dos livros infantis e juvenis e que são recriados literariamente até aos nossos dias.
Por exemplo, no prólogo de um livro seu, Juan Farias conta aos seus pequenos leitores que no mundo há guerras e mortes. Já Peter Härtling, em Ben Liebt Anna revela-lhes que o amor não é só para os adultos, mas que as crianças também têm o direito de o conhecer.
Atualmente, estamos tão habituados a encontrar diversidade de classificações nas livrarias que é surpreendente pensar que as denominações que damos hoje aos livros infantojuvenis são tão recentes!
A verdade é que o crescimento que o livro infantil teve a partir do culminar da 2.ª Grande Guerra foi tão incrível que a oferta editorial teve de se diversificar. Em vez de se publicarem unicamente “livros para crianças”, começaram a publicar-se coleções categorizadas, consoante os seus temas e características específicos ou as franjas etárias a que se dirigiam.
Assim nasceram as tipologias que hoje conhecemos como “livros para pré-leitores”, “livros de imagens”, “livros-objeto”, “livros-interativos” ou “livros-informativos”.
Foi também nos anos 70 que se criou uma narrativa exclusivamente juvenil, pois havia uma preocupação generalizada com a promoção da leitura junto ao público adolescente, para combater os baixos níveis de alfabetização e literacia de uma orla populacional que tinha sido escolarizada.
Todas estas mudanças ocorridas no século passado são importantes para entender a dimensão ampla que a Literatura Infantojuvenil tem hoje, pois foram elas que permitiram que os livros que povoam a infância das nossas crianças lhes proporcionem um desenvolvimento emocional, social e cognitivo indiscutivelmente mais profundo do que no passado.
O quebrar das barreiras temáticas fez com que as crianças passassem a visualizar de forma mais clara os sentimentos que têm em relação ao mundo, permitindo-lhes entender como lidar com os problemas existenciais associados à infância, como medos, sentimentos de inveja, de carinho, curiosidade, dor e perda.
Conta-nos nos comentários se sabias que a LIJ como a conhecemos hoje começou a consolidar-se nos anos 70! Já agora, qual é a tua opinião sobre a inclusão dos novos temas na LIJ? Todas as opiniões são bem vindas!
Partilhar o artigo para que mais gente conheça parte das história das histórias que encantaram as nossas infâncias!
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